domingo, 6 de agosto de 2017

Educar para a vida


A Oficina dos Sentimentos, inspirada no relato do espírito Ermance Dufaux, ensina o ser humano a se libertar onde ele mais necessita consolidar seus valores pela educação: na vida emocional

A educação, assim como todas as áreas do conhecimento humano, passa por mudanças rápidas e profundas. A escola moderna, mais que nunca, vem atualizando seus métodos de ensino em função das necessidades emergentes do ser humano nos dias de hoje. Um ponto fundamental nesse cenário é o próprio conceito de educação que foi construído ao longo dos séculos, focado em transmitir conhecimento. Percebe-se, hoje, que isso necessariamente não é educação, mas, sim, uma ferramenta educacional chamada instrução. Educar vai muito além de armazenar saberes. A prova disso é que hoje temos uma sociedade intelectualizada e primariamente capacitada em valores e habilidades que sejam suficientes para propagar a justiça, o bem e a ética.
A palavra educare, que vem do latim, quer dizer "ex" (fora) + "ducere" (conduzir, levar), ou seja, extrair para fora, retirar de dentro, vir à luz. Educar é oferecer condições para que o homem descubra seus próprios talentos e vocações e os desenvolva. É fazer contato com os potenciais latentes que Deus depositou em cada um de nós. Portanto, somente com a instrução, esse objetivo central da arte de educar fica incompleto.
Uma pergunta torna-se imprescindível, a nós, espíritas, diante deste contexto social: temos acompanhado esse ciclo de progresso? Estamos educando espiritualmente o ser humano que busca o espiritismo? O conhecimento espírita colabora na formação de homens de bem ou apenas oferece subsídios informativos sobre assuntos espirituais? Somente por meio do conhecimento espírita consegue-se oferecer condições ao ser humano para ser mais feliz e capaz de promover sua libertação consciencial?
Começa a ficar mais claro que anos e mais anos de instrução doutrinária não são sinônimos de paz interior ou conduta moralizada. É comum amealharmos décadas de Espiritismo e, ainda assim, trazermos a alma aflita e conturbada. Constata-se, após um longo período de intensa divulgação da doutrina, que a instrução não foi suficiente para apontar soluções aos dramas íntimos da vida emocional. Falta um investimento maduro e consciente na aplicação prática da sabedoria do autoconhecimento e, mais que isso, na arte de nos educar para aprendermos a mar de verdade, inclusive a nós próprios.
Mais que informação espíritas, estamos carentes de transformação espírita. Mais do que sermos espíritas que atuam em tarefas, sermos pessoas que ajudam a melhorar a vida em toda parte, incluindo o nosso próprio bem estar. Mais que instrução doutrinária, precisamos de soluções aplicáveis para erradicarmos nossas dores, desenvolvermos nossos talentos e construirmos o homem de bem que Allan Kardec se refere em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVII, itens um e dois.
Afinal, usando bom-senso e amor, nós viemos aqui na Terra foi para isso: superar os sofrimentos, colocar nossa luz para fora, extrair de dentro o ser maravilhoso que todos possuímos latente na intimidade. Quem ainda dorme noa braços da aflição com justificativas de pagar débitos e resgatar faltas, corre o risco de enquadrar-se em provas das  quais já podia ter saído há um bom tempo, além de tornar sua própria existência um mar de tormenta a título de melhoria espiritual.

Educando  sentimentos
A divulgação esclarece, mas só a educação pode salvar! Quero,agora, preparar o terreno para a segunda parte deste artigo, na qual vou falar sobre o que é a Oficina dos Sentimentos, como aplicá-la e quais foram os resultados educacionais desse método na mudança do cenário em que se encontra o ensino espírita. Não se trata de um método de substituição da instrução espírita, mas sim, complementar, já que lida com todas as bases do espiritismo dirigidas para a vida subjetiva do ser. Basicamente, a proposta da oficina é educar a alma para ser feliz.
A Oficina dos Sentimentos é uma experiência inspirada no relato do espírito Ermance Dufaux, em seus livros Escutando Sentimentos e Lírios de Esperança, nos quais são discorridos sobre métodos e técnicas usadas no Hospital Esperança, no tratamento de seus internos. O Hospital Esperança é uma obra de amor, erguida por Eurípedes Barsanulfo, no mundo espiritual, para socorrer religiosos cristãos falidos que não conseguiram erguer a libertação de suas consciências à luz do evangelho.
Considerando que os benfeitores realizam essa tarefa do "lado de lá", surgiu a ideia de trazer para cá a experiência que se espalhou por vários grupos espíritas no Brasil e no exterior.
É um projeto e uma vivência que nos leva a conhecer Espiritismo, nos conhecendo, nos incluindo no processo de ensinar. O diferencial da Oficina dos Sentimentos é a educação em um dos focos mais emergentes para nossa paz e felicidade, ou seja, nos sentimentos, na educação emocional do ser. 
Para uma noção inicial do tema, que será concluído no próximo artigo, vamos analisar o quadro ilustrativo que faz uma distinção bem didática sobre os caminhos da instrução e da educação, isto é, do aprimoramento dos potenciais humanos que ainda não sabemos como administrar coerentemente, com os princípios que fundamentam a teoria espírita.
Observe que tudo parte da mudança de conceito entre ensinar Espiritismo através de conteúdos e práticas e ensinar o ser humano a se libertar onde ele mais necessita consolidar seus valores pela educação: na vida emocional, que se expressa na convivência.

Especial / Por
Wanderley Oliveira