sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Espiritualidade no dia a dia


Acreditamos que somente pelo fato de irmos a um
 centro espírita já somos espiritualizados...Devemos
 praticar a espiritualidade em nosso cotidiano, nas
 atitudes mais simples da vida
                    
Por  Quito Formiga e Paulo Pio

A humanidade é composta por seres espirituais vivendo vidas terrenas. Estamos todos em um aprendizado constante, procurando progredir em bondade, conhecimento e sabedoria, rumo a angelitude, pois esta é a lei.
É na terra que devemos exemplificar e praticar a espiritualidade. A cada nascer do sol somos chamados a espalhar os dons de Deus à nossa volta.
Um ser espiritualizado é aquele que já aprendeu o caminho a seguir e praticar atos de amor, perdão, bondade e realizações no bem onde quer que se encontre. Espiritualidade é enxergar o mundo com os olhos do amor.
Certa feita, Madre Teresa recolheu das lixeiras de Calcutá um mendigo, já às portas da morte. Ela o banhou, alimentou-o e o colocou em um leito limpo e arejado para que ele moresse com dignidade. O pobre homem a tomou pelas mãos e perguntou:
Senhora, qual é a sua religião?
Madre Tereza respondeu com os olhos marejados:
- Minha religião é você!
- E qual é o Deus que a senhora serve?
- Meu Deus é você!
Muitas vezes, confundimos conceito tão sublime com religião, acreditamos que ao visitarmos templos, igrejas ou centros espíritas, como colaboradores ou frequentadores destas instituições, estaremos praticando a espiritualidade que existe em cada um. Breves momentos da semana e estaremos "quites" com a nossa consciência de cristãos ocidentais.
A religião geralmente é um fator de desunião entre as pessoas, enquanto que a espiritualidade nos une em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade.
Devemos praticar a espiritualidade em nosso cotidiano, nas atitudes mais simples da vida. O psicólogo e monge Jack Kornfield, em seu livro Depois do Êxtase, Lave a Roupa Suja (Ed. Cultrix), nos conta que após seu exílio no Tibete, sentiu muita dificuldade em adaptar-se à vida no Ocidente, por causa do nosso cotidiano materialista e insensível. Para não esquecer do que aprendeu, ele passou a utilizar os ensinamentos budistas nas pequeninas coisas da vida: Cantava mantras de compaixão a cada prato que lavava. Fazia orações enquanto esfregava o chão, pedindo para que, além dos pisos, o coração de todos a sua volta ficassem limpos, purificados e inocentes.
"Estar consciente e pleno ao lavar uma louça é mais profundo do que fechar os olhos e passar meia hora repetindo mantras" - Krishnamurti.
Segundo um artigo de revista Bons Fluidos: Atos aparentemente triviais, como pagar contas, ir ao trabalho e levar os filhos à escola, têm relevância espiritual. E estar consciente disso também é um fator de aperfeiçoamento. Mahatma Gandhi nos asseverava que: " Não dá para acertar num departamento da vida e continuar errando em outro. A vida é um todo indivisível".
Numa memorável conversa que teve com o Dalai Lama, o Frei Leonardo Boff deixou-nos lições eternas de como devemos viver nossa religiosidade:
- No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, perguntei ao Dalai Lama, em meu inglês capenga:
- Santidade, qual é a melhor religião? Esperava que ele dissesse: " É o Budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas que o Cristianismo". O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos, o que me desconcertou um pouco, pois eu sabia da malícia contida na pergunta, e afirmou:
- A melhor religião é aquela que te faz melhor.
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:
- O que me faz melhor?
- Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A religião melhor que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião...
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável.
Quando aprendermos a caminhar no mundo agindo no bem, realizando com desprendimento e amor nossas responsabilidades; quando a energia da reforma íntima fluir graciosamente dos nossos corações, nos tornaremos seres espirituais e poderemos dizer, como o apóstolo Paulo de Tarso:
" Não sou eu mais quem vivo, mas Cristo que vive em mim".