domingo, 15 de setembro de 2013

Amnésia reencarnatória

Especial / Por Luiz Roberto Mattos

Se vivemos antes em outros corpos, por que não nos lembramos dessas outras vidas passadas?

Gosto sempre de deixar claro, logo no início, o significado das palavras que compõem os títulos que dou aos meus textos, para que não pairem dúvidas sobre o seu conteúdo.
Assim, apenas lembrando, amnésia é esquecimento, falta ou falha de memória, e reencarnação é o ato de o espírito retornar à carne, mas em outro corpo físico.
Portanto, estarei aqui associando a amnésia à reencarnação.
É de conhecimento de todo espírita, e acredito que também dos espiritualistas, em geral, que, ao reencarnarmos, passamos pelo processo de esquecimento do passado. Ou seja, ao voltarmos à carne, no plano físico, esquecemos, na maioria das vezes de forma completa, de todas as nossas vidas anteriores, das encarnações passadas.
Antes de renascermos, passamos pelo que alguns espiritualistas do passado chamavam de sono da alma. De acordo com algumas obras espíritas, antes de reencarnar somos submetidos a um processo de adormecimento, de forma natural ou induzida, e entramos em sono profundo.
Ainda baseados na literatura espírita, alguns dizem que passamos por um processo de miniaturização, para melhor nos adequarmos ao óvulo fecundado, que é minúsculo, é diminuto, e ao qual nos ligamos energeticamente, dando início, assim, a uma nova encarnação.
O que quero falar neste texto é sobre o esquecimento do passado, sobre a amnésia, suas razões de ser e suas consequências.
Por que esquecer o passado?
Por que esquecer nossas vidas e experiências passadas? Isso não nos traz mais prejuízos do que ganho, mais perda do que benefício? Qual a lógica do esquecimento do passado?
Aliás, esse é um argumento que já ouvi muitas vezes de materialistas contra a reencarnação.
Perguntam eles: Se vivemos antes em outros corpos, por que não nos lembramos dessas outras vidas passadas?
A pergunta tem sentido! É preciso haver uma resposta para ela, e de forma lógica!
Por que não nos lembramos de nossas vidas passadas, se elas existiram de fato?
É preciso termos em mente, para respondermos a essa pergunta, que a Terra é um planeta de expiação e provas, com uma população espiritual ainda muito atrasada, cheia de vícios, e com um passado ainda sombrio e, muitas vezes, bastante negro.
Sabemos que, em muitas situações, dois ou mais espíritos que foram inimigos no passado, em outras vidas, são colocados, mesmo sem saberem, na mesma família, como irmãos, pai e filho, mãe e filho, etc., para que se processe a reconciliação que,de outra forma, seria muito mais difícil, se não impossível, pela repulsa natural que se dá quando dois inimigos se reencontram, seja na escola, no trabalho ou até mesmo no seio da família.
O que aconteceria se todos se lembrassem claramente do passado ao se reencontrarem novamente na carne? Pensemos em um pai lembrando nitidamente que sua filha foi sua amante, ou esposa, em vida passada. Ou uma mãe lembrando que seu grande amor do passado agora é seu filho.
Isso poderia despertar, ou redespertar, um velho sentimento que poderia pôr a perder a vida atual, com desvios sexuais dentro da própria família.
Pensemos em um pai que se recorda claramente que seu filho foi seu algoz no passado. Ou que uma mãe se lembre que sua filha a traiu, antes, com o atual marido, e isso desperta nela agora um ciúmes doentio, afastando-a da filha atual.
Agora, pensemos em dois inimigos reencarnados como irmãos, que já na adolescência se recordam das coisas que o outro fez. O que aconteceria nessa situação? É bem possível que o sentimento de ódio fosse redespertado e que os dois voltassem a fazer mal um ao outro. Portanto, as reconciliações de grandes inimigos seriam muito mais difíceis.
A verdade é que a esmagadora maioria das pessoas não está mesmo preparada para conhecer o seu passado!
Poucos estão maduros o suficiente para recordar, para lembrar o passado e conviver com ele de forma sadia no presente.
O conhecimento do passado pode, muitas vezes, desestabilizar uma pessoa e destruir uma família.
No estágio atual de evolução humana não é prudente "abrir as portas do passado" para que o passado" para que o seu conteúdo desça para o consciente. Por isso, os espíritos mais evoluídos e maduros que dirigem o planeta no mundo espiritual cuidam para que todos esqueçam o passado antes de renascerem na carne.
Essa é a lógica do esquecimento do passado, é a lógica da amnésia em relação às vidas anteriores, às reencarnações passadas, colocada de uma forma bem simples e sintetizada.

E as coisas boas?
Alguém, então, perguntaria: Mas e as coisas boas, o aprendizado, os sentimentos bons desenvolvidos em vidas passadas, tudo se perde e nada é lembrado?
De forma alguma! Toda vez que entramos em contato novamente com um determinado saber, com um conhecimento já adquirido em outras vidas, sentimos uma grande facilidade de aprender, porque, na verdade, estamos apenas recordando, não aprendendo pela primeira vez.
Sentimos isso até mesmo com conhecimentos e habilidades aprendidas na mesma encarnação. Para dar um exemplo clássico: aprendemos a andar de bicicleta, mas se deixamos de andar por alguns ou até vários anos, e depois montamos novamente em uma bicicleta, já saímos andando como se nunca tivéssemos deixado de andar.
O mesmo acontece com tudo o que aprendemos em nossas várias existências passadas.
Se nos aprofundamos no conhecimento de matemática, em uma vida anterior, agora sentimos mais facilidade em aprender, porque, na verdade, estamos apenas "recordando", o que também acontece com a música, a escrita e tudo o mais.
Nada se perde! A prova disso está nos chamados dons inatos, nas aptidões inatas, na facilidades que cada um tem para determinadas coisas.
As habilidades, os conhecimentos, todo o saber adquirido em uma vida permanece na mente do espírito, no inconsciente do ser, e vêm à tona em forma de dons, de aptidões e facilidades.
Assim, finalizando, a amnésia reencarnatória somente facilita a nossa evolução, auxiliando a promover reconciliações que de outra forma seria quase impossível.

Esquecimento do passado
393. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas de que se não lembra? Como pode aproveitar da experiência de vidas de que se esqueceu? Concebe-se que as tribulações da existência lhe servissem de lição, se se recordasse do que as tenha podido ocasionar. Desde que, porém, disso não se recorda, cada existência é, para ele, como se fosse a primeira e eis que então está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com justiça de Deus?
"Em cada nova existência, o homem dispõe de mais inteligência e melhor pode distinguir o bem do mal. Onde o seu mérito se se lembrasse de todo o passado? Quando o Espírito volta à vida anterior ( a vida espírita), diante dos olhos se lhe estende toda a sua vida pretérita. Vê as faltas que cometeu e que deram causa ao seu sofrer, assim como de que modo as teria evitado. Reconhece justa a situação em que se acha e busca então uma existência capaz de reparar a que vem de transcorrer. Escolhe provas análogas as de que não aproveitar, ou as lutas que considere apropriadas ao seu adiantamento e pede a Espíritos que lhe são superiores que o ajudem na nova empresa que sobre si toma, ciente de que o Espírito, que lhe for dado por guia nessa outra existência, se esforçará pelo levar a reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das em que incorreu. Tendes essa intuição no pensamento, no desejo criminoso que frequentemente vos assalta e a que instintivamente resistis, atribuindo, as mais das vezes, essa resistência aos princípios que recebestes de vossos pais, quando é a voz da consciência que vos fala. Essa voz, que é a lembrança do passado, vos adverte para não recairdes nas faltas de que já vos fizestes culpados. Em a nova existência, se sofre com coragem aquelas provas e resiste, o Espírito se eleva e ascende na hierarquia dos Espíritos, ao voltar para o meio deles."

O Livro dos Espíritos.
Segunda Parte Cap.VII. Allan Kardec

Outras explicações
Acho que outra razão pela qual não nos lembramos, normalmente, de experiências vividas em outras encarnações é o fato da ligação do espírito com o novo corpo.
Nosso corpo físico é muito denso, se comparado com o perispírito, e acredito que isso contribua para o esquecimento. Além disso, o nosso cérebro é novo, não possui registros de uma vida anterior. Portanto, não temos "tecnologia" físico-espiritual que nos permita lidar com recordações do nosso passado, vivido em outras encarnações ou no mundo espiritual.Conforme vamos evoluindo, o próprio processo fará com que as lembranças venham à tona, na hora certa.
Agora, cuidado para não criar fantasias, fruto das nossas carências: não podemos dizer, com certeza, com quais pessoas do nosso convívio nós já nos relacionamos em outras encarnações...
Talvez, o número de "conhecidos" seja menor do que acreditamos!

Por Victor Rebelo