sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Estudo e caridade na prática mediúnica


Especial/ Por Pedro Valiati

Entenda o que se espera dos médiuns, os níveis de consciência durante o transe mediúnico e a postura moral durante um trabalho de desobsessão

Nos grupos mediúnicos equilibrados, conscientes da tarefa de intercâmbio com os espíritos, tendo como móvel a prática da caridade e o autoburilamento,a ação do médium de psicofonia constitui valorosa ferramenta de atendimento ao irmão necessitado ou veículo de alcance do mentor espiritual. As alterações da expressão e voz, sob os impactos da ação fluídica, os termos e "gírias", sotaques e linguajar alterados, manifestos pela influência do espírito no médium, conduzem às estratégias de diálogo, guiado sob a inspiração do Plano Maior, segundo maiores ou menores possibilidades do "doutrinador" e amparado pela "carga vibratória" da equipe de apoio (sustentação).
É através de orações, embaladas pelo sentimento de amor (eis porque o móvel da caridade é tão importante), que a espiritualidade busca considerável parcela de recursos a ser utilizada nas reuniões de caráter fraterno e desobsessivo, produzindo variados e determinantes efeitos para o sucesso da tarefa, como o emprego de tais fluidos nas cirurgias de cunho perispiritual.
Entretanto, referindo-me aos médiuns de psicofonia, o termo passividade, comumente utilizado para conceituar o momento em que o desencarnado toma as vias mediúnicas do médium, não determina em absoluto atitude passiva, entrega total do médium. Pelo contrário; como recordaremos abaixo, em quaisquer das classificações de psicofonia (consciente, semiconsciente e intuitiva) existe, em maior ou menor grau, a possibilidade do médium de influenciar o espírito comunicante, auxiliando, no sucesso do diálogo.

Níveis de Consciência
Recordando a literatura espírita, temos, nos trâmites mediúnicos, três "níveis" de consciência nas faculdades mediúnicas da psicofonia e psicografia. São estes:

Inconsciente
Mesmo tendo total exteriorização do médium, este não permanece inoperante no fenômeno. Havendo completa confiança no espírito comunicante, o perispírito do médium poderá afastar-se em estudo, visitação espiritual, outras tarefas ou ficar aproveitando os ensinamentos, conforme os relatos de experiências fornecidos por alguns médiuns.
Em outros casos, o médium pode permanecer junto ao espírito  que  se  comunica, auxiliando-o.
No livro Nos Domínios da Mediunidade, cap.8, André Luiz relata a experiência com a médium Celina, onde, apesar da faculdade mediúnica da psicofonia inconsciente, agia sobre o espírito a influenciar-lhe na comunicação. Portanto, o termo "passividade", muito utilizado para definir o estado de consciência "passivo" do médium durante a comunicação, ganha termos limitados, visto que, mesmo os médiuns inconscientes são capazes de manter determinada ação diante do irmão em comunicação.

Semiconsciente
Na mediunidade semiconsciente, a exteriorização do perispírito do médium é parcial. Durante este processo mediúnico, existe a ligação entre a mente do médium e a do espírito. Neste caso, as frases são do médium, mas as ideias do espírito.
Enquanto a mensagem está sendo recebida, o médium sabe o que está falando, sente a intenção do comunicante, podendo controlar a intervir, se necessário, mas, ao terminar a manifestação, só recordará vagamente de parte da mensagem.

Intuitiva
Na verdade, o termo correto seria inspiração e não intuição. O espírito comunicante se aproxima do médium e transmite, inspira a ideia que deseja.
Costuma-se dizer que esta é a mediunidade dos palestrantes, escritores e doutores, daqueles que manifestam a "inspiração momentânea". Se concorda em falar, transmite as ideias conforme as entende e usando seu próprio estilo, vocabulário e construção de frases. Frases e estilo do médium, ideia do espírito. O médium sente a influência e capta o pensamento do espírito comunicante na origem, antes de falar, e pode transmiti-lo ou não.

Durante a prática
De posse desses conceitos, podemos entender mais amplamente a melhor forma de agir em determinados atendimentos:

Espíritos em desespero
É bastante comum vermos cenas de desespero no contato mediúnico, onde espíritos foram vítimas de morte violenta ou resultantes de grande agonia e, portanto, ainda se vêem na cena de martírio, dando vazão a comunicações de completo descontrole, impossibilitando um diálogo equilibrado.
Compreendemos que o médium não necessita "entregar-se" tanto. O medianeiro consciente, de faculdade educada, pode perfeitamente passar a comunicação sem "sentir" dores e "encharcar-se" do desespero. Se o móvel é a caridade, então devemos adotar posturas de auxiliadores e, nestes casos, o melhor auxílio é não cair em desequilíbrio. Naturalmente, tal atitude é baseada no treino do médium e nos incentivos do dirigente da equipe, responsável por conscientizar o grupo para as melhores práticas, alertando e fomentando a educação mediúnica.
Uma equipe encarnada, consciente das suas possibilidades e em constante aperfeiçoamento técnico e moral, promoverá auxílios mais complexos, não apenas baseado nas capacidades morais, aprimoradas com o tempo, mas igualmente através do "afinamento" do aparelho e práticas mediúnicas.

Cirurgias perispirituais
Os casos de cirurgias espirituais são bastante comuns em grupos mediúnicos denominados de "pronto atendimento". Nestes casos, o médium auxilia demonstrando através da comunicação, incentivando o espírito a falar sobre suas dores e estado. Os gestos também podem denotar as dificuldades perispirituais do comunicante.
Naturalmente, sem exageros, por vezes, alguns irmãos possuem tamanha deformidade que seria bastante dolorido ao médium expressá-las pelo gestual. Existem ainda os que se comprazem na dor do médium, levando-o a contorções desnecessárias. O médium, ciente de suas possibilidades e objetivo da tarefa, entende perfeitamente os exageros e a função medianímica dr passar a comunicação de forma a favorecer o espírito necessitado, naturalmente, sem comprometer o respectivo veículo carnal.
O doutrinador também pode auxiliar nestes casos, solicitando ao espírito maior consideração com o corpo do médium. Tal alerta será, ou deveria ser, igualmente, ouvido pelo médium, om qual tentará, à revelia do desejo do espírito comunicante, acertar o aparelho carnal na medida necessária para a comunicação.

Espíritos revoltados
Nestes casos, o médium é perfeitamente capaz de suprimir comentários indesejados, a divulgação de "fofocas" e, ainda, palavras de baixo calão. Todos esses elementos credenciam o grupo à maturidade, demonstrando conhecimento da tarefa e coesão no atendimento, entretanto, não aguardemos as lisonjas, pois a espiritualidade dificilmente elogia uma equipe mediúnica encarnada, aliás, desconfiemos de elogios "largos" e mensagens de referência ao grupo ou a algum indivíduo.
Mesmo nos casos onde recebemos as cartas de queridos entes desencarnados a nos dar notícias e amparo sentimental, é difícil dizer se o móvel da comunicação foi por merecimento, tendo em conta as conquistas íntimas,ou pura necessidade, devido a um momento de dificuldades. Os irmãos da equipe espiritual normalmente mencionam o que precisa ser melhorado, e o elogio é sutil. Podemos percebê-lo através de algumas "pistas". Por exemplo, quando a complexidade e demanda dos atendimentos é dilatada, isto significa que a equipe atingiu outro patamar de desenvolvimento, comprometimento e maturidade.
Eis a importância da educação mediúnica e do desenvolvimento da faculdade de forma a "dominar" as habilidades de comunicação. Não basta apenas comunicar, mas dar o direcionamento necessário sem prejudicar a comunicação, a reunião e o atendimento em si. Naturalmente, além do sentimento de amor, o desenvolvimento moral influencia sobremaneira na comunicação, pois a sintonia de sentimentos, moral e doutrinária, com os mentores, em muito favorece o medianeiro, facilitando a comunicação e levando o espírito em sofrimento a patamares de confiança e consideração, sentindo-se acolhido e mais disposto a mudança de atitudes morais.
Todos estes efeitos são "produtos" oferecidos pela equipe espiritual, sob a base dos irmãos encarnados.
Muitos, já conscientes, ajudam e colaboram para facilitar o trabalho da espiritualidade; são parceiros. Outros, não tão conscientes dos respectivos deveres morais perante a vida e, consequentemente, perante a tarefa, colocam-se simplesmente como instrumentos pouco ativos e ainda não imbuídos da fé renovadora, dedicando as parcas horas do contato mediúnico em favor da respectiva moralidade, de forma superficial e puritana, resumindo-se a instrumentos de pouca utilidade e possibilidades.
Lembremos que a capacidade de atendimento aos irmãos desencarnados não se encontra apenas nas mãos da espiritualidade, mas também na somatória das conquistas individuais da equipe encarnada.
Tratemos de ajustar os nossos direcionamentos morais, regulando pensamentos, sentimentos e atos, favorecendo, ajustando e educando a respectiva faculdade mediúnica, em vez de servirmos como médiuns de mínimas ou estagnadas possibilidades. Tal atitude perante o compromisso mediúnico facilitará sobremaneira a atividade da equipe espiritual, pois como diz o ditado popular, muito ajuda quem não atrapalha!

Da formação dos médiuns
207. Outro meio, que também pode contribuir fortemente para desenvolver a faculdade, consiste em reunir-se certo número de pessoas, todas animadas do mesmo desejo e comungando na mesma intenção. Feito isso, todas simultaneamente, guardando absoluto silêncio e num recolhimento religioso, tentem escrever, apelando cada um para o seu anjo de guarda, ou para qualquer Espírito simpático.
Ou, então, uma delas poderá dirigir, sem designação especial e por todos os presentes, um apelo aos bons Espíritos em geral, dizendo por exemplo: Em nome de Deus todo-poderoso, pedimos aos bons Espíritos que se dignem de comunicar-se por intermédio das pessoas aqui presentes.
É raro que entre estas não haja algumas que dêem prontos sinais de mediunidade, ou que até escrevam corretamente em pouco tempo.
Compreende-se o que em tal caso ocorre. Os que se reúnem com um intento comum formam um todo coletivo, cuja força e sensibilidade se encontram acrescidas por uma espécie de influência magnética, que auxilia o desenvolvimento da faculdade. Entre os Espíritos atraídos por esse concurso de vontades estarão, provavelmente, alguns que descobrirão nos assistentes o instrumento que lhes convenha.
Se não for este, será outro e eles se aproveitarão desse.
O Livro dos Médiuns. cap.XVII
Allan Kardec