quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Como entrar em contato com seu guia espiritual

Por Victor Rebelo

Será que somente as pessoas consideradas médiuns podem entrar em contato com os benfeitores espirituais? O que é necessário para esse intercâmbio?

"Ah! Queria tanto ouvir o meu guia espiritual! Quem me dera poder entrar em sintonia com os espíritos de Luz! Pena que não sou médium..."Quem é espírita e nunca teve estes pensamentos que atire a primeira pedra! Mas será que somente os médiuns têm a capacidade de entrar em comunicação com os mentores espirituais? Será que somente as pessoas consideradas santas podem entrar em sintonia com seres iluminados? Se é possível, como posso entrar em contato com meu "anjo da guarda"? Vamos refletir e procurar, agora, responder a essas questões.
Primeiro, precisamos entender o que é ser médium, de acordo com a conceituação kardequiana:"159. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. E de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações. As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes ou psicógrafos."_ O Livro dos Médiuns.
Como vimos, kardec começa com um conceito mais amplo sobre o que é mediunidade, para depois afirmar que "(...) só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes (...)". Sob este ponto de vista, somos obrigados a considerar que apenas uma mínima parcela da humanidade é composta por médiuns, ou seja, indivíduos cuja mediunidade se apresente de forma ostensiva e com efeitos patentes.
Portanto, se, por um lado, o fenômeno mediúnico requer condições psicofísicas e energéticas específicas, da parte do agente intermediário entre o mundo físico e espiritual (o médium), todos podemos sentir e interagir com os espíritos e mesmo percebermos o mundo espiritual, em maior ou menor grau. Por exemplo: uma pessoa pode não ser qualificada como médium,conforme a classificação kardequiana, mas, mesmo assim, pode sentir a presença de algum espírito em seu ambiente, sem estar atuando como intermediária entre os dois planos e mesmo sem ter consciência de que o que está sentindo é influenciado por uma entidade extrafísica. É um fenômeno sutil, que não é ostensivo e nem passível de ser verificado como autenticamente mediúnico.
Outro exemplo: posso vivenciar um fenômeno de clarividência, mas isso não significa que eu esteja agindo como médium, afinal, até mesmo certos animais conseguem ver os espíritos e perceber nuances do mundo extrafísico, e nem por isso são considerados médiuns. Posso, simplesmente, "ver" paisagens do mundo espiritual ou mesmo ver aspectos da minha aura (o campo psicoemocional e energético que se irradia ao nosso redor) ou da aura de alguma pessoa encarnada. A mesma linha de raciocínio se aplica com relação ao fenômeno de projeção astral (também conhecido como desdobramento, emancipação da alma, etc.). As experiências fora do corpo são um fenômeno natural, que ocorre com todos nós quando dormimos... ocorre, inclusive, com os animais. Portanto, normalmente trata-se de um fenômeno classificado como anímico, e não mediúnico, necessariamente, exceto quando é provocado e controlado pelos espíritos.

Mediunidade e animismo
Outro ponto importante, que vale ressaltar, é que todo fenômeno mediúnico é, na verdade, medianímico, pois sempre existirá o componente anímico envolvido. Por menor que seja, sempre haverá a influência do médium em qualquer comunicação mediúnica. Inclusive, a prática mediúnica, em geral, não se apresenta nos centros espíritas, umbandistas, etc., como antigamente. São raros os médiuns que ficam inconscientes durante o processo, ou que afirmam serem retirados para fora do corpo físico durante o transe mediúnico. Hoje, mais do que nunca, o médium deve oferecer o seu arcabouço de conhecimento técnico e doutrinário para que os guias espirituais tenham mais "matéria-prima" à disposição para atuarem.
Isso não significa que a mediunidade deva ser comparada ao animismo puro. Não! Mas, a antiga passividade mediúnica está cedendo lugar para que o médium assuma, cada vez mais, sua responsabilidade como coparticipante do processo.
Vejamos o que André Luiz diz, em Nos Domínios da Mediunidade, sobre a maneira como o animismo é condenado em certos grupos espíritas: "Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do espiritismo, vêm convertendo a teoria anímica num travão injustificável a lhes congelar preciosas oportunidades de realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras 'mistificação inconsciente ou subconsciente' para batizar o fenômeno."
Fica claro, então, que podemos estar sendo inspirados por nossos benfeitores espirituais e nem sequer temos consciência disso. Captamos as ideias que eles nos transmitem e as reproduzimos em nosso campo mental de acordo com nosso arcabouço psicológico, para então a exteriorizarmos por meio de nossa linguagem e entendimento próprios. Isso é muito comum de acontecer com os palestrantes, que muitas vezes nem percebem estar sob a influência dos guias espirituais. Mas atenção: o oposto também ocorre! De acordo com a lei de afinidade, você poderá atrair espíritos mistificadores, perturbadores e mesmo violentos, se eles encontrarem campo fértil em você.
Portanto, estou deixando claro que toda pessoa pode interagir - em maior ou menor grau, com  menor ou maior lucidez - com os espíritos e o mundo espiritual,sem que, para isso, seja qualificada como médium ostensivo.
Basta desenvolver seus potenciais parapsíquicos, com conhecimento técnico e disciplina.

Ética e responsabilidade
Se a capacidade de entrarmos em relação com o mundo espiritual e os espíritos é um potencial que todos temos, em maior ou menor grau, o que é necessário para entrarmos em sintonia com os guias espirituais, ou seja, com os espíritos benfeitores? Vejamos o que diz um trecho do capítulo 13, do livro Nos Domínios da Mediunidade, do espírito André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier:
"Em matéria de mediunidade, não nos esqueçamos do pensamento.
Nossa alma vive onde se lhe situa o coração.
Caminharemos, ao influxo de nossas próprias criações, seja onde for.
A gravitação no campo mental é tão incisiva, quanto na esfera da experiência física.
Servindo ao progresso geral, move-se a alma na glória do bem. Emparedando-se no egoísmo, arrasta-se, em desequilíbrio, sob as trevas do mal. A Lei Divina é o Bem de todos."
Fica claro que técnica e disciplina não bastam para nos colocar em sintonia com os espíritos benfeitores. Se não vivermos de acordo com a lei do equilíbrio e da harmonia, algo que só é possível desenvolvendo nossa capacidade de amar e tornando-nos mais sábios, a cada dia, não seremos capazes de interagir com os espíritos que já vivem essa realidade que tanto almejamos. Para haver comunicação, deve haver sintonia. Portanto, o fenômeno mediúnico - não importa o grau - ocorrerá sempre em conjunto com o fenômeno anímico, ou seja, conjugado com as qualidades morais e afinidades do médium.
Então, se você quiser receber uma inspiração da parte dos guias espirituais que porventura lhe acompanham, ou sentir a presença dos benfeitores espirituais do centro que você frequenta, você deve, primeiramente, trabalhar para viver, cada vez mais, o mesmo clima interno que eles vivem. Se você chega no centro, seja para assistir a uma palestra ou dar passes, mas seu estado psicoemocional está desequilibrado, os guias não conseguirão inspirá-los. O fenômeno telepático, que é a transmissão de ideias, entre você e os guias, não ocorrerá. Ao contrário: talvez consiga, apenas, perceber as formas pensamento ou energias geradas por sua raiva, medo, arrogância, vaidade... e que estão agregadas à sua aura. Você pode até pensar que é "encosto", obsessão... mas geralmente não é. É você mesmo mantendo seu desequilíbrio.

Entrando em Contato
Então, o primeiro passo para entrar em contato consciente com os espíritos mais esclarecidos, equilibrados, chamados "espíritos de Luz", é você acender a Luz dentro da sua consciência. Como? Com autoconhecimento, buscando desvendar, cada vez mais, sua realidade interna...seus anseios, suas reações emocionais, seu padrão de pensamento ao longo do dia e, em especial, durante situações difíceis e inesperadas; sua atitude perante suas expectativas, sejam elas em relação a você ou ao próximo... Enfim, conheça a si mesmo, ainda que para isso seja necessário buscar um psicólogo! Lembre-se: doutrina religiosa não é psicologia. Cada ramo do conhecimento atua em uma área específica. Não confunda as coisas!
Com o autoconhecimento, precisamo praticar a reforma íntima. A mudança de hábitos é fundamental. Se você quer reformar algo que não está bom, não adianta somente conhecer o ambiente e traçar planos. A execução da obra é fundamental, senão a reforma não acontece! Então, a partir do momento em que você começa a descobrir o que é necessário mudar - não para ser "bonzinho", "santo", mas simplesmente porque anseia pela paz de espírito - e como mudar, tenha força de vontade e disciplina para transformar a si mesmo, antes que o sofrimento seja necessário. Lembre-se: você só poderá irradiar a verdadeira paz e um profundo amor para o mundo, se isso já for uma realidade interna, ou seja, em você! Caso contrário, será apenas uma máscara para iludir a sociedade e, às vezes, você mesmo.
Se você ainda não se convenceu, vejamos mais um trecho da mesma obra de André Luiz, ainda no capítulo 13:
"Imaginar é criar.
E toda criação tem vida e movimento, ainda que ligeiros, impondo responsabilidade à consciência que a manifesta. E como a vida e o movimento se vinculam aos princípios de permuta, é indispensável analisar o que damos, a fim de ajuizar quanto àquilo que devamos receber.
Quem apenas mentalize angústia e crime, miséria e perturbação, poderá refletir no espelho da própria alma outras imagens que não sejam as da desarmonia e do sofrimento?
Um viciado entre os santos não lhes reconheceria a pureza, de vez que, em se alimentando das próprias emanações, nada conseguiria enxergar senão as próprias sombras."
Já pude comprovar o que André Luiz deixa claro neste trecho em algumas experiências de projeção astral lúcida que realizei, quando pude observar certos espíritos que estavam limitados à realidade interior deles, vivenciando apenas suas criações mentais. Dessa forma, eles não viam e nem interagiam com os guias espirituais. O mesmo ocorre com certas entidades perturbadas e violentas. Estão desencarnadas, no mundo espiritual, mas em um plano muito mais denso, o que faz com que não consigam acessar os planos mais sutis da espiritualidade.
Sim! O mundo espiritual possui vários planos de densidade e é muito mais amplo e complexo do que imaginamos!
Para ser médium verdadeiramente espírita - não importa o grau da mediunidade - não basta se comunicar com os espíritos. Ainda no livro Nos  Domínios da Mediunidade, capítulo 13, lemos:
"Ninguém é realmente espírita à altura desse nome, tão só porque haja conseguido a cura de uma escabiose renitente, com o amparo de entidades amigas, e se decida, por isso,a aceitar a intervenção do Além Túmulo na sua existência; e ninguém é médium, na elevada conceituação do termo, somente porque se faça órgão de comunicação entre criaturas visíveis e invisíveis.
Para conquistar a posição de trabalho a que nos destinamos, de conformidade com os princípios superiores que nos enaltecem o roteiro, é necessário concretizar-lhes a essência em nossa estrada, por intermédio do testemunho de nossa conversão ao amor santificante."

Exercícios bioenergéticos
Aliado ao processo de autoconhecimento e reforma moral, devemos realizar exercícios para o desenvolvimento da nossas faculdades anímico-mediúnicas.
A mediunidade, pelo menos para os médiuns iniciantes, deve ser desenvolvida em algum centro, de acordo com sua afinidade - espírita, umbandista, etc.
Por outro lado, os exercícios bioenergéticos podem ser realizados por todos,independente de a pessoa ser portadora de mediunidade ostensiva ou não. Mas, infelizmente, tenho observado, tanto no movimento espírita quanto umbandista, que os seguidores dessas duas doutrinas realizam poucos exercícios técnicos com o objetivo de harmonizar a aura. Isso é ruim, pois se tivéssemos o hábito diário de praticar exercícios para harmonização psicoemocional, seríamos pessoas mais estáveis e lúcidas, o que facilitaria nossa sensibilidade espiritual e interação com os benfeitores.
Se você procurar ter um bom conhecimento sobre o que são chakras e seu funcionamento básico, além de um bom entendimento sobre o que é fluido vital, duplo etérico, perispírito, etc., as práticas de harmonização bioenergética serão uma valiosa ferramenta não apenas para lhe auxiliar no desenvolvimento da faculdade mediúnica ou na ampliação da sua sensibilidade e percepção do mundo espiritual, mas também serão um grande auxílio para sua evolução espiritual, como um todo.
A prática diária de meditação, relaxamento, respiração consciente, visualização e harmonização psicoemocional e bioenergética ampliará, cada vez mais, seu grau de lucidez e compreensão da vida e de si mesmo. Para isso, nos adverte o pesquisador espiritualista Dalton Campos Roque: "As bioenergias não possuem necessariamente o amor, mas todo amor carrega bioenergias, e quanto mais elevado, mais sutil elas serão. É por isso que existem tantos técnicos cheios de conhecimento, tantos intelectuais espiritualistas, mas frios (e até sarcásticos) no trato com o semelhante e incompetentes para tratar, cuidar e assistir as pessoas (sejam aqueles e estes encarnados ou desencarnados).
Para finalizar, quero deixar claro que precisamos manter um contato mais direto com os espíritos - de preferência, com aqueles que são mais equilibrados que nós, ou seja, nossos guias espirituais!
Para isso, o desenvolvimento da nossa sensibilidade parapsíquica deve ser natural, com muito estudo e exercícios de desenvolvimento orientados por pessoas realmente qualificadas (cuidado com o charlatoes, que prometem desenvolver sua sensibilidade espiritual sem o menor escrúpulo ou domínio), pois não basta ao espírita praticar um "Espiritismo se espírito". Estudar ou saber de cor os conceitos espíritas e espiritualistas é pouco. Transcenda seus limites! Exerça sua mediunidade, procure aprender, sem preconceito com outras doutrinas espiritualistas, sobre como praticar a projeção astral lúcida; aprenda técnicas para harmonizar a aura ou desenvolver a clarividência... Tudo com muita ética e respeito ao seu próprio processo de amadurecimento. Os que nunca praticaram vão dizer que é perigoso. Não desista! Ao contrário, procure ler muito a respeito e busque aprender com quem tem experiência.
Cabe a cada um de nós tirarmos grandes lições para o nosso crescimento, não apenas teoria ou dependendo de terceiros, mas por conta própria, a fim de servirmos como ferramentas mais úteis ao progresso da humanidade.
No fundo, toda essa busca por um contato mais consciente com os guias espirituais, as práticas de meditação, de bioenergia, etc., têm apenas uma finalidade: ajudá-los, durante seu processo evolutivo atual, a manifestar cada vez mais sua natureza iluminada, Divina.

                                                     
Victor Rebelo é comunicador e
pesquisador espiritualista.