quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Chegadas e partidas


Especial/ Por Evaldo Ribeiro

Entre indas e vindas, reconhecemos que para concretizarmos as grandes transformações que tanto desejamos devemos começar partindo do mais íntimo de nós, confiando no prosseguir evolutivo da vida

Quando nascemos, logo somos acolhidos, amparados, bem cuidados, amados e aceitos do jeito que a vida nos concebeu. Mas, já chegamos nessa nova realidade esquecidos das nossas raízes antepassadas, de onde viemos atravessando em evolução. É como se estivéssemos voltando de uma longa viagem e desembarcando no aeroporto da vida, para um recomeço entre pessoas muito queridas de outros tempos. E nesse emocionante reencontro, logo sentimos uma energia muito positiva vibrando no calor do abraço dessas pessoas que nos acolhem, comemorando afetivamente a nossa chegada.
Todos ao nosso redor demonstram boa vontade, disposição em nos ouvir e, principalmente, interesse em nos oferecer uma condição favorável para que possamos ter uma vida feliz. Nada é mais seguro para nós que o olhar iluminado daquela mulher que aceitou usar o seu corpo como veículo celeste para transportar o nosso espírito de outras moradas até o plano terrestre e, mesmo com a sua aparência modificada pelo processo da gestação, ao nos dar a luz ela se sente premiada, preenchida e realizada com o resultado que a chegada de um filho representa.... a sua própria continuação.

Carinho e amparo

Ela se comove quando tem a oportunidade de nos tocar e sentir a energia da nossa presença pela primeira vez em seus braços.
Quando sentimos algum desconforto, basta chorar e ela logo entende o que estamos dizendo e o devido cuidado imediatamente é tomado, porque o bem-estar de um bebê torna-se a prioridade de uma família unida pelo amor.
Quando começamos a nos comunicar, cada gesto nosso é comemorado, aplaudido e reconhecido como algo muito esperado pela nossa torcida familiar.
Entendendo como as relações humanas funcionam, tomamos confiança e estabelecemos um vínculo afetivo com aqueles que estão mais presentes em nossa vida diariamente.
As primeiras palavras que pronunciamos não são bem claras. Mas, todos querem participar desse momento único conosco. Mesmo quando nós falamos de forma errada, todos entendem, se divertem e aceita isso sem nos repreender pela nossa falha. Isso nos encoraja e nos faz acreditar que somos seres muito especiais.
Ainda cedo, descobrimos que aqueles adultos fortes que demonstram tanta superioridade diante da nossa fragilidade, na verdade, não são tudo aquilo que eles aparentam, pois, começamos a assimilar que essas pessoas podem ser manipuladas psicologicamente por nós e, assim, criamos os jogos emocionais, onde passamos a exercer poder sobre essas pessoas e, do alto de sua suposta maturidade, os adultos começam a reconhecer em nós o seu próprio passado em nosso comportamento imaturo.

Criando "asas"

Atravessamos a fase da dependência e começamos a caminhar com as nossas próprias pernas... E, justamente quando nós descobrimos que somos livres, as pessoas que a nossa inocência enxergava como protetoras agora começam a se revelar e a impor regras para nós. Ah, como isso dói profundamente em nosso ser!
A técnica das chantagens emocionais que nós usávamos para chamar a atenção já não funciona mais. E quando insistimos em obter aquilo que desejamos, através daquele velho apelo de vítima, as coisas sempre terminam em palmadas. Não entendemos mais como devemos interagir com os adultos, porque antes que eles nos diziam sim, para tudo. Mas, agora nos dizem não, para qualquer coisa que desejamos. E em nossa cabeça fica uma pergunta dramática repetida: Por que eles não me amam mais como antes?
Sem uma resposta concreta, o nosso castelo de ilusões desmorona e, assim, temos que encarar a nova realidade e crescer com os desafios.
A vida começa a perder a graça quando, ainda pequenos, recebemos a notícia de que alguém muito querido partiu dessa para a outra morada - sem pelo menos nos dizer quando vai voltar.
Evitando nos traumatizar, as pessoas nos dizem que o familiar falecido, na verdade, foi morar com o "Papai do Céu", porém, essa explicação não convence muito, pois, afinal, fomos ensinados que as pessoas que se amam de verdade, para onde vão, sempre levam consigo quem elas mais amam.
Tomados pela dor da perda e o sentimento de abandono que é deixado pelo silêncio da morte, não compreendemos como é que uma pessoa amada se muda para um lugar tão longe como é o céu sem, pelo menos, se despedir de nós antes de partir.

Questionamentos

As dúvidas enchem a nossa cabeça de indagações, nos assombrando e, assim, passamos a procurar respostas para tudo que nos perturba. Porém, alguns adultos continuam mentindo e nos levando cada vez mais para dentro de um mundo ilusório e fantasioso.
Decepcionados com os outros, nos fechamos e só queremos saber quem somos nós e de onde viemos; porque nascer, envelhecer, e morrer, se despedindo de quem nós tanto amamos, de uma forma tão dolorida? E, para onde nós vamos embarcar, quando a morte chegar para nos levar? Será que vamos nos reencontrar com aquelas pessoas queridas que nos deixaram e nunca mandaram notícia? Será que elas vão nos reconhecer e correr ao nosso encontro quando chegarmos ao outro lado da vida, para, de uma vez por todas, calar essa voz da saudade que grita dentro de nós?
Sem conexão com a outra realidade da vida, somos obrigados a conviver com a incerteza, até chegar o nosso momento de regressar para a morada invisível.
Entramos na fase da adolescência e a nossa cabeça começa a criar solução para tudo, e é nesse momento que a nossa personalidade é formada e no qual achamos que o mundo só ficará interessante se embarcar em nossas ideias revolucionárias.

Rebeldia

Queremos transformar o jeito de pensar dos nossos pais, porque achamos que experiência dos mais velhos está sempre ultra-passada e que só uma coisa está certa nessa sociedade: a nossa vontade.
Queremos ensinar os nossos professores a verem aquilo que eles tentam nos ensinar por uma visão mais atualizada. Porque nos imaginamos sendo espíritos avançados e enviados pela Inteligência Superior para provocar a transformação nesse mundo de "atrasados e adormecidos de consciência".
Conquistamos a juventude e nessa fase queremos viver tudo agora e sem responsabilidade com o amanhã. Dominados pelos hormônios, agimos sem pensar nas consequências das nossas ações... Somos advertidos e, às vezes, até punidos rigorosamente.
Sentindo o efeito das nossas atitudes na própria pele, logo entendemos que as coisas não funcionam apenas do nosso jeito e que a nossa razão se perde quando desrespeitamos o direito de igualdade dos outros.

Reflexão e recomeço

Atingimos a maturidade biológica e novamente somos convidados a nos enquadrar nas regras da sociedade.
Finalmente, chega a velhice, cansada de tanto bater contra o muro e marcada pelas cicatrizes dos seus próprios passos errados.
Porém, agora carregada de experiência, plena de maturidade e conselheira dos jovens. Já não temos mais vontade de aventura e condenamos a pressa daqueles que, assim como nós, nos tempos de rédeas curtas, avançam nos prazeres da vida antes da hora. Mesmo sem enxergar direito, agora achamos que tudo é imoral e que o tempo perfeito se foi quando a nossa aparência ainda era jovial. Passamos a desaprovar o comportamento da juventude atual, onde vemos qualquer gesto de carinho como pouca vergonha, falta de respeito e decadência dos bons modos.
Quando regressamos para a outra morada, levamos conosco a certeza de que não resta outra saída na vida, a não ser crescer.
Reconhecemos, então, que para concretizarmos as grandes transformações que tanto desejamos, devemos começar partindo do mais íntimo de nós, confiando no prosseguir evolutivo da vida, que só promove esse crescimento quando entendemos que, fazendo a parte que nos cabe, tudo se ajusta para nos fazer chegar ao mais alto nível de consciência, onde o clarão da sabedoria abre a nossa visão para nos proporcionar a revelação daquilo que mais buscamos... a luz de nossa essência.