domingo, 2 de novembro de 2014

A mente e o tempo


Reforma íntima/ Por Samuel Gomes

O agora é o único tempo que existe...
Viver restritos ao tempo mental é criar uma
cronologia falsa e doentia

O tempo é um fenômeno da existência para o qual é necessário estarmos atentos, principalmente quando estamos ocupados em nos autoconhecer.
Se analisarmos com cuidado, veremos que existem dois tempos conjugando-se em nossas vidas:
o cronológico e o mental. O primeiro existe em decorrência do movimento planetário e é perceptível pelos homens. O segundo, por sua vez, é criado por nosso pensamento sempre que nos fixamos às coisas do nosso passado ou a acontecimentos previstos para o futuro. Comparando-os, é fácil perceber que o tempo cronológico acontece naturalmente e de maneira objetiva, real, em contraposição ao tempo mental, que aconteceu por meio dos nossos pensamentos, sendo, portanto, ilusório e superficial, pois nos distancia da realidade e cria grande parte de nossos problemas.
Todo movimento mental traz consigo uma quantidade enorme de emoções, que são os fatores perturbadores de nossas vidas. Logo, quando nosso viver está constantemente voltado para nossas lembranças, as quais são projetadas por nós para o futuro, experimentamos o medo: medo de voltar a vivê-las, caso tenham sido dolorosas, ou medo de não vivê-las novamente, caso tenham sido prazerosas. Daí surgem sentimentos como a ansiedade e tantos outros comuns aos dias de hoje, que são efeito desse modo de viver que nos afasta dos aspectos reais de nossa existência, daquilo que acontece no "agora".
O agora é o único tempo que existe para que nossas ações determinem os rumos de nossas vidas. Viver restritos ao tempo mental é criar uma cronológia falsa e doente. Afinal, nossas lembranças, sejam elas boas e ruins, sustentam o tempo psicológico, determinando quem somos e distanciando-nos do agora.
Precisamos compreender que viver os prazeres e as dores das experiências quando elas estão de fato acontecendo é a única maneira de aprender com elas verdadeiramente. Nessa vivência plena de cada acontecimento, encerramos a experiência quando ela termina, abrindo-nos para que ela ocorra novamente.
Muitas pessoas,não sabendo como se livrar das amarras do tempo mental, perguntam se é possível parar de pensar. No entanto, o problema não é esse. Pelo contrário, ao criarmos uma resistência aos pensamentos, nós os fortalecemos, aumentando nossa dificuldade em lidar com eles.
Nossos pensamentos, emoções, corpos, profissões, funções, roupas, entre outros tantos aspectos, são instrumentos para enriquecer as nossas vidas e não para determinar quem somos. Se conseguirmos organizá-los, colocando-os em seu devido lugar, eles proporcionarão o despertar de nossa sabedoria em viver e uma nova inteligência em agir.
As constatações aqui expostas só terão importância se conseguirmos, cada um, notá-las de forma clara no exato momento em que elas ocorrem em nossas vidas. Com essa percepção, conquistaremos, paulatinamente, o entendimento de tudo o que nos acontece e conduziremos uma ação espontânea de transformação real em nossa maneira de viver.

Samuel Gomes é psicólogo e
palestrante espírita.