sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A humildade e a faculdade mediúnica



"(...) a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom, ou mau, conforme as qualidade do médium."
Allan Kardec


     Ao tratar de mediunidade não procuramos tratar de valores, já que esta não depende da bagagem moral ou da coleção de virtudes que o ser humano tenha. Mas, em se tratando de Espiritismo, os bons valores são um meio e um fim; a humildade é um alicerce que ao mesmo tempo serve de ponte e de estrutura para a formação ética/moral.
     Não. A mediunidade não depende de sermos virtuosos ou bondosos. Tal como uma disposição orgânica, a capacidade de intermediar a comunicação entre o mundo material e o espiritual é inerente ao ser humano, porém, como toda disposição humana para realizar e criar, a mediunidade pode ser utilizada como mecanismo de ascensão, de crescimento espiritual, desde que realizada com base em valores morais, presentes em todas as religiões. E não poderia ser diferente; se a mediunidade existe desde a origem da humanidade, os valores também estão difundidos em todos os lugares e em todas as épocas.
    Balizado em valores morais universais (como a humildade), tende o ser humano à sua libertação das satisfações egoístas.
     Tem aí o espírito a grande missão sobre a Terra: bem utilizar seus recursos - ofertados como empréstimo ou conquistados -  para a manutenção do equilíbrio natural do progresso do meio e de si próprio.

Eternos aprendizes
    Se conceituarmos a humildade como capacidade de reconhecermo-nos sempre como aprendizes, também nos reconheceremos necessitados da misericórdia de Deus e dificilmente encararemos o exercício da mediunidade como exposição de uma superioridade.
      Pessoalmente, não acredito que um "dom" seja melhor que o outro, mas acredito que existam boas ou más maneiras de utilizá-lo; o critério de julgamento é aquilo que nos faz crescer e melhorar, sem o auxílio da dor.
     Utilizar a mediunidade de forma a exercitar e divulgar a humildade é conectar-se a consciências que reconhecem necessitarem de Deus e dos irmãos para a consecução do projeto de libertação íntima, nas bases morais eternas. Será a humildade, em contradição ao egoísmo, o culto a Deus, este sim, credor de todo reconhecimento, além de vacinar o espírito contra as investidas da vaidade e do orgulho, que vedam e embaçam a visão da vida espiritual.
   Reconhecer-se pequeno não é reconhecer-se diminuído, mas, compreender-se diante do contexto espiritual (eterno) até onde podemos compreender, e quem mais rápido compreender sua posição diante da criação, mais rápido caminha por saber onde está.
        O exercício da humildade proporciona ao médium o escudo protetor contra muitas investidas densas, mas não de todas; um irmão satanista pode, por exemplo, se considerar pequeno diante do poder de espíritos hierarquicamente superiores, e isso é humildade.
      Assim, o amor e a fé em Deus são os grandes escudos. De posse desse conhecimento, passa o espiritualista a exercitar a humildade em todos os aspectos da vivência social; reconhecer se irmão, em vez de superior; reconhecer-se falho antes de reconhecer-se mais forte que os outros; reconhecer-se devedor antes de reconhecer-se portador da cura ou da palavra que salva. Põe-se no lugar que lhe é devido, ou seja, junto das criaturas que deve aprender a amar e ajudar, sendo, assim, ajudado.