terça-feira, 11 de junho de 2013

Equilíbrio Mediúnico


Mediunidade / Por Maísa Intelisano

Não basta cuidar da mediunidade; é preciso cuidar do médium, da pessoa, do seu reequilíbrio, e não podemos ignorar que é no "Kit" pensamento/emoção que se assenta a mediunidade

Por mais amor que sintamos por todos os seres humanos, nunca poderemos ajudá-los efetivamente se antes não ajudarmos a nós mesmos, equilibrando-nos, fortalecendo-nos, colocando-nos sobre os próprios pés, acreditando em nós mesmos, em nossa força, em nosso poder e em nossa capacidade de auto-controle.
De nada adianta amarmos as pessoas e querermos ajudá-las se não formos capazes de nos mantermos lúcidos e firmes quando vemos, ouvimos ou percebemos os seus problemas. O que aconteceria se os médicos não usassem máscaras, aventais e luvas para atender os pacientes com doenças contagiosas, e ainda desmaiassem a cada corte ou mancha de sangue que vissem? Também ficariam doentes e, em vez de ajudar a tratar os doentes, diminuindo o seu número, seriam mais doentes a precisar de tratamento. Dá para imaginar a confusão?
Com a mediunidade é a mesma coisa. De nada adianta um médium que percebe tudo, capta tudo e sente tudo, se ele não souber manter uma boa sintonia, se ele não se mantiver sempre alerta e equilibrado, coberto de luz, de bons pensamentos, de bons sentimentos, livre de preconceitos, cheio de confiança, de boa autoestima, de firmeza, de fé em si mesmo e nos seus protetores espirituais, apoiado no seu conhecimento e nos seus estudos, sempre atualizados e constantes. E esse é um trabalho que ninguém pode fazer pelo médium; só ele mesmo pode fazer por si.

Esforço e lazer
Assim como ninguém pode ir à faculdade, ao estágio e à residência pelo médico iniciante, ninguém pode estudar, treinar e se preparar para o trabalho mediúnico pelo próprio médium. Há uma parte muito importante de todo o processo que depende só dele. E essa parte demanda esforço, coragem, força, iniciativa, interesse, vontade, determinação, firmeza, maturidade, equilíbrio, disposição e seriedade, que todos nós temos ou somos plenamente capazes de alcançar!
Entendendo que todo o processo mediúnico passa pela nossa parte psíquica, vemos o quanto é importante também mantermos uma saúde mental e psicológica em dia. Ou seja, alegria de viver, interesse pela vida, otimismo, autoconfiança, interesse em crescer e aprender coisas novas, conhecer pessoas novas, estudar, trabalhar, namorar, etc. Levar, enfim, uma vida normal e saudável.
Divertimento e lazer também fazem parte da nossa saúde mental. Todos precisamos de momentos de lazer, em que possamos relaxar e fazer aquilo que gostamos. Por isso, devemos procurar ouvir músicas que apreciamos, participar de atividades que nos dão prazer, ler também livros que nos interessam, só por prazer. Tudo isso faz parte do processo. E, ao mesmo tempo, continuarmos com tudo aquilo que possa colaborar com o nosso equilíbrio e bem-estar físico, emocional e espiritual. Mas, com firmeza, participando conscientemente do processo de equilíbrio, para que ele possa ser mais rápido e efetivo.
Maria Aparecida Martins, em seu livro Conexão-Uma nova visão da mediunidade, pela Editora Vida & Consciência, diz algumas coisas que se gosto muito e que os meus alunos me ouvem repetir muito ao longo do meu curso. Ela diz: "Não existe desajuste de mediunidade. O que existe é uma personalidade desajustada. Quando você tem uma manifestação mediúnica em desequilíbrio, saiba que é a personalidade que está desajustada. Cuide do desajuste da personalidade e a mediunidade se ajusta por consequência.
Não basta só cuidar da mediunidade, conhecer temas, promover palestras, dar cursos, frequentar o grupo, trabalhar na campanha de Natal, frequentar a escola de médiuns. Não basta cuidar da mediunidade; é preciso cuidar do médium, da pessoa, do seu reequilíbrio, e não podemos ignorar que é no kit pensamento/ emoção que se assenta a mediunidade.
Somos médiuns uns dos outros; compramos, muitas vezes, o mau humor do pai, o vitimismo da mãe, o desânimo do marido..."
É interessante notar que, em todas as afirmativas, ela colocou o holofote no médium, não nos espíritos ou na mediunidade, ou na família, ou na sociedade, ou no corpo, mas no médium, nas suas emoções e pensamentos, e na forma como ele lida com esses seus aspectos internos.
É sempre o próprio médium que tem que dar o primeiro passo em busca do seu próprio equilíbrio, mas é um passo interno, ou seja, ele tem que se dispor interiormente a mudar e trabalhar, para que, externamente, possa sentir a transformação. É ele que tem que reconhecer que está fazendo algo que não está sendo bom para si mesmo e se dispor a modificar isso.
Assim, não são os espíritos que têm que entender que o médium não está apto a ajudá-los, mas o próprio médium que tem que entender que precisa se capacitar para ajudar os espíritos que o procuram. Basta querer!

Médium "evangelizado"
Houve um tempo em que o refrão "O melhor médium é o médium evangelizado", criado pelos espíritas, chegou a ser tomado como lei.
Acontece que, como a mediunidade só passou a ser sistematicamente estudada e treinada dentro das casas espíritas, era natural que, para eles, o melhor médium fosse o mais evangelizado, uma vez que o Espiritismo é uma doutrina baseada no Cristianismo, nos ensinamentos deixados por Jesus, segundo os Evangelhos.
O desvio começou quando esse parâmetro tornou-se popularmente difundido, como se o médium que professasse qualquer outra religião ou doutrina, ou que não professasse nenhuma religião ou doutrina, não pudesse ser um bom médium, um médium responsável, um médium voltado para o crescimento espiritual de si próprio e das pessoas com quem convive.
No entanto, mais importante que a crença professada pelo médium, é a forma como entende, exerce e usa sua mediunidade. E nesse aspecto, pouco importa se segue os ensinamentos de Jesus, Buda ou Krishna, pois todos eles, em essência, dizem as mesmas coisas, ensinando que somos todos espíritos, imperfeitos ainda, encarnando e desencarnando sucessivamente, e todos iguais perante o Criador.
Nesse aspecto, importa mais saber como o médium vê o próximo e o que deseja para ele; se usa sua mediunidade, ainda que inconscientemente, para levar o bem a todos, indistintamente; se usa a mediunidade para aprender e crescer; se, mais do que médium, ele entende que é um espírito e, como tal, deve levar sua vida aqui na Terra.
A condição temporária de médium é apenas mais uma tarefa, mais uma trabalho a ser cumprido, que não o exonera de todos os outros seres humanos. Ao contrário, como médium, ou seja, como intermediário entre os homens encarnados e os homens desencarnados, ele deve conhecer bem a natureza humana e, para isso, deve viver bem no mundo, sem viver para o mundo.

A mediunidade é neutra
A mediunidade é condição que nos coloca em contato direto com o mundo espiritual, o mundo de onde viemos e para onde voltaremos quando esta vida terminar, mas, sendo neutra em si mesma, da mesma forma que nos dá a possibilidade do contato com seres elevados, também pode nos colocar em contato com seres desequilibrados e perturbados. O que determina a qualidade dos contatos a serem feitos por seu intermédio é a intenção do contato e, principalmente, o nível espiritual de quem a possui e exerce.
Quanto mais espiritualizado for o médium, no sentido de ter consciência de sua condição de espírito em experiência na carne, aprendendo e corrigindo-se para crescer, mais elevados serão seus contatos e mais positivos os frutos desses contatos, mesmo quando manifestando entidades desequilibradas, desorientadas e perturbadas, pois estarão sempre voltados para a espiritualização da humanidade como um todo.
De nada adianta ser médium sem essa consciência, pois não estamos aqui para sermos apenas bons médiuns, mas para sermos espíritos melhores, mais éticos e amorosos, e a mediunidade é apenas mais um recurso que Deus nos proporciona para termos sucesso nessa empreitada.
O médium que não procura crescer como espírito, que não busca o aperfeiçoamento de si mesmo em autoconhecimento, bondade, discernimento, amor fé e serenidade, que não procura levar às outras pessoas a ideia de que não somos este corpo físico, de que a nossa essência é muito mais sutil, mais nobre e muito mais importante que ele, é mero alto-falante que apenas repete o que lhe dizem os espíritos, sem se importar com o nível desses espíritos, sem se preocupar se o que dizem é bom ou ruim, sem se importar com o efeito do que é dito nas outras pessoas e o mundo à sua volta.

Reforma interior
É o que diz Ramatis, no livro Mediunismo, quando afirma que "não basta ver, ouvir e sentir espíritos em seu plano invisível, pois o médium, em qualquer hipótese, deve ser o homem que, além de contribuir para a divulgação da imortalidade do espírito na Terra, é cidadão comprometido com os deveres comuns junto à coletividade encarnada, onde só a bondade, o amor, o afeto, a renúncia e o perdão incessante podem livrá-lo das algemas do astral inferior."
Portanto, penso que é melhor ser espiritualizado, sem ser médium, do que ser médium, sem ser espiritualizado, já que é muito mais importante para nós evoluirmos como espíritos, independentemente se sermos médiuns ou não.
De nada adianta sermos ótimos médiuns, vendo espíritos, conversando com eles, escrevendo e falando o que  eles pensam, se não formos capazes de aprender com isso, se não formos capazes de buscar e levar a luz neste contato, se não formos capazes de tornar o mundo à nossa volta melhor com esse intercâmbio, se não formos capazes de aplicar em nossa vida diária o que os espíritos nos ensinam nesse intercâmbio.
O contato com o mundo dos espíritos, por si só, não atribui a nenhum médium qualidades morais que ele não tenha em si, que ele mesmo não tenha conquistado por mérito próprio como consciência, que ele mesmo não possua como herança de seus próprios esforços ao longo de sua vida espiritual.
Ninguém se torna digno de confiança e respeito apenas ser médium. E o médium só será considerado digno de confiança e respeito quando já o for como indivíduo.

A técnica do amor
O amor é a energia que mantém o universo e tudo o que nele existe. Sem o amor do Criador, nada existiria, nada se sustentaria, não haveria transformação. Sem o amor incondicional de Deus por nós, nada seríamos e nada poderíamos realizar.
É na força do amor, o Amor-Deus, o amor que É, o Amor que existe sem ter sido criado, que todos nos movemos, que todos existimos, vivemos, pensamos e sentimos. Tudo que experimentamos é o Amor Maior agindo em nós, por nós e para nós. Somente pelo amor podemos realizar com Deus, podemos agir com o mundo de Deus, em sua criação. 
O médium é também obra e, ao mesmo tempo, ferramente de Deus, pois é através dele que Deus  se revela um pouco mais à consciência humana, tão presa à ilusão que a cerca neste mundo material. No médium, tem Deus mais um caminho para o coração humano. E pelo médium, podemos todos entender um pouco melhor o Deus que vive em nós, mas não enxergamos, o Deus que nos ama tanto que nos deu também a mediunidade para que pudéssemos nos aprofundar em seus mistérios.
Todo médium deve ter consciência de que é também um pouco médium de Deus, da Vida, do Amor que  É e tudo permeia. Todo médium precisa saber-se efeito de Deus, da vontade divina, da sabedoria infinita, para compreender que sua missão na mediunidade nada mais é do que expressar esse Amor que a todos envolve, nutre, sustenta e transforma, sendo imutável e constante em si mesmo.
Para ser fiel à sua missão, portanto, o médium deve viver mergulhado em amor. Amor por Deus, pela criação, pelas criaturas e por si mesmo. Amor que se revela em respeito, em virtude, em fraternidade. Amor que se apóia também em estudo, em conhecimento, em razão. Amor que se equilibra, serenamente, entre o êxtase da fé e a concepção do intelecto.
Sem este amor, a mediunidade torna-se estéril e fria, pois nada inspira à vida a não ser arrogância e desencanto. Sem este amor que alimenta a razão e nela se apóia, o médium nada percebe de si mesmo e de sua tarefa. Nada sabe dos propósitos de sua missão e nada intui da verdadeira Vida, a Vida que representa.

Conhecimento
Sem conhecimento, a mediunidade se torna cega, irresponsável e fanática, e nada acrescenta à humanidade a não ser medo, ignorância e superstição. Sem o conhecimento que ilumina o coração, o médium pouco compreende de si e de Deus, pois age às cegas, sem poder entender os fenômenos que o alcançam e não pode controlar.
Cabe ao médium, portanto, ser instrumento preciso e fiel do amor Deus pelos homens, estudando sempre, aprendendo cada vez mais, para se fazer mais e mais amoroso em sua mediunidade. Cabe ao médium sintetizar, em si mesmo, amor e conhecimento, levando não somente técnica ao seu trabalho, mas também sabedoria, equilíbrio, discernimento, serenidade, para que, no exercício de sua mediunidade, reflita-se somente a melhor técnica, a essência de tudo: o amor.



Mediunidade não é privilégio

Por Deusa Nogueira -Pelo canal # IRCEspiritismo
É preciso fazer uma distinção entre mediunidade e Espiritismo